quinta-feira, 15 de abril de 2010

Você me olha com esse seu olhar de pena e compreensão e se faz meu chão sem nem perceber.
E eu penetro no seu mais doce, nos seus cantos mais úmidos, na sua dor mais secreta.
E de repente me sei e te sei, doloridos no chão do quarto, vivendo um pouco da vida que a gente deixa de viver. A vitrola num canto, Cartola, quem sabe. Ou um tango argentino. Coisa incompreensível. E nos damos as mãos de longe. E fechamos os olhos enquanto o resto do mundo se mata do outro lado da janela. E daí o choro vem, e choramos um choro surdo e cego, que nada quer ouvir e nem enxergar – essa realidade forçada e todo esse monte de palavras feias.
E abrimos os olhos e nos olhamos, sorrindo. Sim, sorrindo. E daí rimos muito, da nossa imbecilidade bonita de sentir sempre tudo tão doloridamente grande, da nossa pressa em se encontrar, da réstia sob a porta. Eu-você e essa pele em flor que nunca passa.

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