segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

minha realidade tem gosto de mel e girassóis

Ela era só uma moça querendo escrever um livro e ele era só um moço querendo morar num barco, mas se realimentando um do outro para. Para quê? Eles pareciam não ter a menor idéia.
O cheiro dele era tão bom nas mãos dela quando ela ia deitar, sem ele. O cheiro dela era tão bom nas mãos dele quando ele ia deitar, sem ela. O corpo dela se amoldava tão bem ao dele. (...) ela gostava quando, depois de muito tempo calada, ele pegava no seu queixo perguntando – o que foi, guria? Ele gostava quando ela dizia sabe, nunca tive um papo com outro cara assim que nem tenho com você. Ela gostava quando ele dizia gozado, você parece uma pessoa que eu conheço há muito tempo. Ele gostava tanto quando ela passava as mãos nos cabelos da nuca dele, aqueles meio crespos, e dizia bobo, você não passa de um menino bobo.
Ele disse:
- eu não vou me esquecer de você.
Ela disse:
- nem eu.
(...)
Que grande cilada, pensaram. Ficaram se olhando assim, quase de manhã.

Tocou-a devagar no ombro nu moreno dourado sob o vestido decotado e disse:
- sabe, eu pensei tanto. Eu acho que.
Ela se voltou de repente. E disse:
- eu também. Eu acho que.
Ficaram se olhando. Completamente dourados, olhos úmidos. Seria a brisa? Verão pleno solto lá fora.
Bem perto dela, ele perguntou:
- o quê?
Ela disse:
- sim.
Puxou-o pela cintura, ainda mais perto.
Ele disse:
- você parece mel.
Ela disse:
E você, um girassol.
Estenderam as mãos um para o outro. No gesto exato de quem vai colher um fruto completamente maduro.

Caio F.
(Mel e Girassóis – em Dragões não conhecem o paraíso)