segunda-feira, 23 de novembro de 2009



Por que tem tanta coisa em você que encanta, que encanta e que encanta. E o engraçado de tudo, que não é aquele encanto que dá vontade de te roubar e te colocar em uma caixinha pra ninguém mexer. É um encanto tão, tão profundo que me dá vontade de sorrir enquanto você vooa procurando, procurando o que mesmo? Procurando qualquer coisa que seja, eu quero sorrir vendo você voar e só isso! Entende o significado? Se não entender, não tem problema. É tão gostoso sentir sem entender o porquê sente!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Existe alguém esperando por você, que vai comprar a sua juventude e convencê-lo a vencer.
Mais uma guerra sem razão, já são tantas as crianças com armas na mão, mas explicam novamente que a guerra gera empregos, aumenta a produção.
Uma guerra sempre avança a tecnologia, mesmo sendo guerra santa, quente, morna ou fria. Pra que exportar comida se as armas dão mais lucros na exportação?
Existe alguém que está contando com você, pra lutar em seu lugar já que nessa guerra não é ele quem vai morrer.
E quando longe de casa, ferido e com frio o inimigo você espera ele estará com outros velhos inventando novos jogos de guerra, que belíssimas cenas de destruição.
Não teremos mais problemas com a superpopulação, veja que uniforme lindo fizemos pra você, e lembre-se sempre que Deus está do lado de quem vai vencer.
O senhor da guerra não gosta de crianças!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

As duas mãos postas sobre o teclado, naquela atitude que guarda um pouco de oração silenciosa e muito de loucura mansa, ao querer desesperadamente dar forma através de palavras a algo que só existe, sem face nem nome, nessa região longínqua do cérebro onde a fantasia cruza com a memória e a intuição cega.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Jan Saudek

Loucura, eu penso, é sempre um extremo de lucidez. Um limite insuportável. Você compreende, compreende, compreende e compreende cada vez mais, e o que você vai compreendendo é cada vez mais aterrorizante – então você ‘pira’. Para não ter que lidar com o horror.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009


(...)
-Mas não seria natural.
-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder.
-Linhas paralelas se encontram no infinito.
-O infinito não acaba. O infinito é nunca.
-Ou sempre.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

...

Eu não tenho que parecer simpática para você (nem para ninguém) nem muito menos interessante, leve ou bonita. A alma é podre e eu não consigo nem me agradar. É uma pena, você parece um bom garoto ou será que eu é que sou uma garota errada? E todas as coisas que eu guardo aqui dentro serão meros detalhes na sua imensa vida conturbada. E o tempo me faltará. Não me sobrará sua paciência. Eu tão impulsiva. Você? Racional demais.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ler.

Remexa na memória, na infância, nos sonhos, nas tensões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente: é lá que está o seu texto. Sobretudo, não se angustie procurando-o: ele vem até você, quando você e ele estiverem prontos. Cada um tem seus processos, você precisa entender os seus. De repente, isso que parece ser uma dificuldade enorme pode estar sendo simplesmente o processo de gestação do sub ou do inconsciente.
E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

!

Não, não ofereço perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro, definida e clara como o jarro com a bacia de Ágata no canto do quarto - se tomada com cuidado, verto água límpida sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto, mas se tocada por dedos bruscos num segundo me estilhaço em cacos, me esfarelo em poeira dourada. Tenho pensado se não guardarei indisfarçáveis remendos das muitas quedas, dos muitos toques, embora sempre os tenha evitado aprendi que minhas delicadeza nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia, e mesmo assim insisto - meus gestos e palavras são magrinhos como eu, e tão morenos que, esboçados à sombra, mal se destacam do escuro, quase imperceptível me movo, meus passos são inaudíveis feito pisasse sempre sobre tapetes, impressentida, mãos tão leves que uma carícia minha, se porventura a fizesse, seria mais branda que a brisa da tardezinha.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

...

Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. E fumo, e fico horas sem pensar absolutamente nada.
Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais.
Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva pra Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo bem.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Amor Desvairado

É difícil nos abster de algo tão nosso, se mostrar pro outra na mais profunda intimidade e depois de certa forma haver uma negação disso por ambas as partes. Parece que o melhor da gente ta sendo negado. Pagamos um preço, por viver e ser vivo!
O melhor agora a se fazer é sentir a minha dor o tanto que puder, quando passar vou ver como valeu a pena passar por isso. Mais sabe, o tempo engole tudo.
Tenho plena consciência de que nunca vou me depositar em alguém ou amar alguém como o amei. Eu me submeti a cada atitude dele, que ainda lembro com raiva.
Era um amor desvairado, foi o primeiro, por isso a primeira entrega foi de cabeça e tão dolorosa, digo que nunca mais vou amar ninguém "daquele jeito", porque eu fui tão inexperiente quanto ele pra me colocar inteira nas mãos dele, e ele fez o mesmo.
A relação teria de terminar por conta desta submissão de ambas as partes.
Quando somos picados pela cobra a 1º vez, é impossível não seguir adiante com um certo ceticismo e medo de entrega.
Estou na fase de remoer, engolir tudo que houve, e quem sabe vomitar daqui uns dias.
Mais passar por isso, vai me ajudar a ser uma mulher bem mais forte e preparada pra rompimento e a roda da vida. E quando passar vou ver que valeu apena só pelo fato de amadurecer.
E eu já fiz muitas loucuras por conta de um amor desvairado, e me matei um pouco por isso, e se puder prevenir que as pessoas que eu gosto façam o mesmo, eu já me sentirei melhor.
E não vou me martirizar por tê-lo magoado, é o que eu sempre digo, na nossa vida é necessárias tragédias, é isso que faz nossa história um bom livro, uma boa peça, um bom drama, e isso só pode surgir de erros, da dor... pois é daí que nasce a beleza das coisas, é daí que caio fernando abreu escrevia divinamente, errar e sentir dor por isso é ser humano, já penso se a nossa vida fosse algo linear, sem grandes turbilhões? Quão medíocre ela seria não? Por isso eu digo: sinta dor, e tente observar por mais difícil que seja que a tristeza é mais difícil mais tbm é linda.
Continuar vivendo boba, e ingênua como antes poderia e pode ser fatal.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Agosto

Sugestões para atravessar agosto

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções-úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade...Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.

Caio Fernando Abreu, publicado no jornal Estado de São Paulo em 06/Agosto/1995 e
no livro ¨Pequenas Epifanias¨.